As enchentes no Rio Grande do Sul chamaram a atenção do Brasil e do mundo nas últimas semanas e também alertaram sobre as consequências da mudanças climáticas. Segundo especialistas, eventos extremos como este serão cada vez mais frequentes, com consequências para a saúde física e mental da população.
Para falar sobre esse tema e explicar os impactos causados pelas mudanças climáticas na saúde, o Dr.Roberto Kalil recebe o médico sanitarista Gonzalo Vecina e o patologista Paulo Saldiva no “Sinais vitais da CNN – Entrevista com o Dr.“, exibido neste sábado (25).
“Esses eventos climáticos extremos já estão acontecendo e, com eles, o ressurgimento de doenças das quais já poderíamos estar livres. É bom lembrar que em 1983 tivemos a reintrodução do Aedes aegypti em áreas urbanas. Em 1940, conseguimos acabar com Aedes aegypti em áreas urbanas. Por que ele voltou? pergunta Vecina.
“As doenças infecciosas estão migrando porque a temperatura está mudando. A dengue, que era uma doença costeira, está aumentando no Centro-Oeste. A febre amarela voltou em 2017 e 2018, e tivemos que nos vacinar não para ir para uma região remota, mas para ir para Santana”, diz Saldiva, referindo-se a um bairro da zona norte de São Paulo.
Além disso, eventos climáticos extremos, como o ocorrido no Sul do Brasil, podem potencializar a transmissão de vírus e aumentar o risco de diversas doenças. Nas cidades atingidas pelas enchentes já foram detectados casos de hepatite A e já foram confirmados dois óbitos relacionados à leptospirose.
Em cenários como esse, também é comum o aparecimento de tétano, sarna, pneumonia e diversos tipos de infecções respiratórias virais.
No entanto, os efeitos para a saúde vão mais longe: há também consequências psicológicas. “O indivíduo perdeu tudo, não encontra a foto do casamento, sumiu tudo”, diz Saldiva sobre a tragédia no Rio Grande do Sul.
As inundações não são os únicos eventos que representam riscos para a saúde
Os convidados do programa ressaltam ainda que as enchentes não são os únicos eventos climáticos que podem trazer riscos à saúde da população. Ondas de calor intensas, como as que atingiram diversas regiões do Brasil recentemente, também podem aumentar o risco de mortalidade.
“Quando ocorrem essas ondas de calor em São Paulo, você sabe quanto aumenta a mortalidade no dia seguinte, por causas naturais? 50%”, diz Saldiva. “E ninguém morre de hipertermia, que é chegar na maratona com convulsão, ou de hipotermia, que é estar nos Andes e congelar. Você morre porque o calor aumenta, tem vasodilatação, você transpira, o sangue concentra, o rim tem que absorver mais, então tem chance de infecção. Mas a causa da morte não aparece como clima, aparece como infarto, trombose…”, afirma o patologista.
Segundo o especialista, a estimativa é que seis a sete milhões de pessoas morram prematuramente a cada ano devido à poluição. Além disso, considerando as mudanças climáticas relacionadas à temperatura, o Brasil tem uma perda estimada de R$ 1,5 bilhão em produtividade, devido a mortes em idade produtiva.
“Temos que acordar para esta necessidade. Precisamos repensar nosso comportamento. É fundamental que haja a percepção de que temos que começar a fazer o que será a salvação do mundo”, acrescenta Vecina.
“CNN Vital Signs – Dr. Kalil Interview” vai ao ar no sábado, 25 de maio, às 19h15, na CNN Brasil.
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