O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, votou, nesta quarta-feira (29), contra a abertura de processos administrativos disciplinares (PADs) para investigar a conduta de juízes e juízes que atuaram nos casos da Operação Lava Jato.
Os alvos das reclamações disciplinares, abertas pela Inspetoria Nacional de Justiça, são os juízes Danilo Pereira e Gabriela Hardt (atual e ex-chefe do tribunal da Operação Lava Jato, em Curitiba, respectivamente).
A Corregedoria também quer investigar a conduta dos juízes federais Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz e Loraci Flores de Lima, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A análise do caso foi retomada em sessão virtual do CNJ, que começou nesta quarta-feira e vai até o dia 7 de junho.
Para Barroso, não há elementos que justifiquem a abertura das investigações. Na votação, ele disse que os juízes precisam ter a independência necessária para agir.
“Ao decidir disputas, os juízes sempre desagradam a um dos lados em disputa, às vezes a ambos. Para aplicar adequadamente a lei, os magistrados devem ter a independência necessária. A banalização de medidas disciplinares drásticas gera medo de represálias e juízes temerosos prestam um desserviço à Nação”, afirmou.
Entender
O CNJ começou a analisar o caso no dia 16 de abril, em sessão presencial. Na ocasião, o inspetor nacional de justiça, Luís Felipe Salomão, votou pela abertura de processos contra os quatro magistrados. Barroso solicitou uma revisão (mais tempo para análise).
Até o momento só restam votos de Salomão e Barroso.
Os quatro magistrados foram destituídos do cargo no dia 15 de abril. A decisão foi revertida no dia seguinte pelo plenário do CNJ para Hardt e Danilo. Os dois juízes permanecem fora do cargo.
Os quatro magistrados analisados pelo CNJ atuaram em casos relacionados à Lava Jato. São alvo de queixas disciplinares abertas pela Inspecção Nacional de Justiça, por alegadas irregularidades cometidas enquanto exerciam funções na magistratura.
O inspetor Salomão defende a abertura de procedimentos para aprofundar as investigações.
Casos
A Inspetoria Nacional de Justiça abriu queixa disciplinar contra o senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União-PR) e Hardt por supostas irregularidades envolvendo gestão e destinação de dinheiro pago em delação premiada e acordos de leniência.
As suspeitas surgiram a partir de dados coletados em fiscalização extraordinária da condução dos processos da Lava Jato, realizada pelo CNJ.
Relatório preliminar de fiscalização apontou que houve uma “gestão caótica” nos valores dos acordos de leniência e de denúncias vinculados à operação.
Relatório da Inspetoria Nacional de Justiça concluiu que Moro, Hart e o ex-deputado Deltan Dallagnol trabalharam para desviar cerca de R$ 2,5 bilhões do Estado brasileiro com o objetivo de criar “uma fundação focada em atender interesses privados”.
Um dos principais pontos citados pelo fiscal no caso foi o papel de Hardt na aprovação, em 2019, de um acordo entre o Ministério Público Federal (MPF), a Petrobras e autoridades dos Estados Unidos, e previa a destinação de recursos da estatal para o bilionário “Lava Fund Jet” que seria criado.
Pelo acordo aprovado por Hardt, seriam destinados ao Brasil cerca de R$ 2,5 bilhões (em valores de 2019) em multas e indenizações a serem pagas pela Petrobras aos órgãos norte-americanos, e uma fundação privada ficaria encarregada de administrar a utilização desses recursos .
O acordo foi suspenso em 2019 pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, com determinação de bloqueio dos valores depositados pela Petrobras, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em relação aos dois desembargadores e ao desembargador Danilo Pereira, o processo foi aberto por suposto descumprimento de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os três teriam driblado a determinação do ministro Dias Toffoli ao homologar a suspeição do então juiz da Lava Jato, Eduardo Fernando Appio.
A suspeita foi apurada por Loraci e endossada pelos outros dois. Na época, Danilo atuava como juiz convocado da 8ª Turma do TRF-4.
VÍDEO: CNJ endurece regras de denúncia após Lava Jato
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