O diferencial de juros pago por alguns títulos brasileiros e americanos tem estado, nos últimos tempos, próximo de mínimos históricos, pouco acima de 5 pontos percentuais. No momento, por exemplo, o rendimento de dois anos do Brasil rende algo próximo a 10,50%, enquanto o rendimento americano para o mesmo período está em 4,90%, com uma diferença arredondada de aproximadamente 5,5 pp. bem como câmbio e mercado de ações.
Em grande medida, esta diminuição do diferencial deve-se aos diferentes momentos em que os dois países se encontram ao nível das suas políticas monetárias. Os Estados Unidos ainda não iniciaram o seu ciclo de redução das taxas de juros — com diretores do Federal Reserve, na ata do Fomc (Federal Open Market Committee, na sigla em inglês) publicada quarta-feira, mencionando que consideravam aumentar ainda mais as taxas —, enquanto no Brasil o Banco Central está prestes a encerrar seu ciclo de cortes.
“Neste século, a diferença média histórica ronda os 10%, muito superior ao que se observa agora, 5%. O principal fator de impacto é que a ainda elevada taxa de juros em solo brasileiro, de 10,5%, que representa a segunda maior taxa de juros real do mundo, é compensada pela alta dos juros americanos”, explica Pedro Neves Ribeiro, analista e sócio da Investimentos Conscientes.
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Altas taxas de juros nos EUA
Ele explica que o baixo diferencial impacta diretamente no fluxo de capital estrangeiro para o país. Com o elevado nível de interesse oferecido tanto nos EUA como na Europa, os investidores globais “dirigem os seus recursos para mercados desenvolvidos, que são mais atrativos e menos arriscados”.
Em parte, esta mudança explica a recente valorização do dólar e de outras moedas de países desenvolvidos em relação ao real. A moeda americana é negociada atualmente em torno de R$ 5,15, enquanto no início do ano seu valor estava próximo de R$ 4,90.
“A diferença acaba impedindo que o Banco Central do Brasil reduza ainda mais o nível da Selic, para não desequilibrar o câmbio. Portanto, o prêmio para investimentos em moeda brasileira pode ser considerado baixo, tornando os investimentos em solo nacional menos atrativos”, explica Ribeiro.
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E embora alguns títulos mais longos tragam diferenciais menores – no caso dos títulos de dez anos, por exemplo -, especialistas mencionam que o risco fiscal brasileiro, que vem voltando ao radar (com fatores como a revisão do superávit para 2025, por exemplo), vem afastando os investidores deste tipo de investimento, pois criam maior insegurança no longo prazo.
“Temos estresse fiscal e os investidores estrangeiros estão sempre relutantes por causa disso”, afirma Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Impactos na Bolsa de Valores
Ao mesmo tempo, o facto de as taxas de juro nos Estados Unidos serem elevadas mantém o capital afastado do mercado de ações brasileiro, com os investidores a preferirem a renda fixa norte-americana e a não procurarem outras oportunidades. Esse movimento também pesa no desempenho da moeda brasileira.
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“Vemos investidores estrangeiros tirando seu dinheiro daqui e uma valorização da moeda americana frente à moeda brasileira. Fora isso, também começamos a ver alguma interferência na questão dos juros aqui no Brasil”, diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Para ele, aliás, agora também há pressão sobre a Selic, o que impacta diretamente no comportamento dos investidores brasileiros. Com taxas mais elevadas, as contribuições continuam para renda fixa, com diminuição do fluxo de capital para ativos de risco.
“Os EUA têm uma taxa de juros alta. O Brasil já tem uma taxa de juros alta, mas não tão alta que os investidores estrangeiros se sintam atraídos a assumir o risco do nosso país. Além disso, nossa bolsa também não se mexe. Ou seja, o cenário para atração de investidores estrangeiros não é dos melhores”, menciona Felipe Pontes, líder de Wealth Management da Avant Garde Asset Management.