Cada vez mais comum em adultos jovens, câncer colorretal (também chamado câncer de intestino) deverá afetar quase 46 mil pessoas até 2025 no Brasil, segundo as estimativas mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Inicialmente silenciosa, como acontece com a maioria dos tumores, a doença costuma se manifestar com alterações no hábito intestinal, presença de sangue nas fezes, dor abdominal e alterações no formato das fezes, que ficam mais finas ou mais alongadas.
Um dos maiores desafios é diagnosticar precocemente a doença para que o tratamento seja curativo. O Inca recomenda iniciar o rastreamento para maiores de 50 anos, por meio de exame de sangue oculto nas fezes e, se positivo, deve ser realizada colonoscopia. Porém, diante do crescente aumento de casos, diversas sociedades médicas – inclusive a Sociedade Brasileira de Coloproctologia – passaram a recomendar a colonoscopia para todos os adultos com mais de 45 anos, mesmo sem sintomas.
“Por mais clichê que possa parecer, todos os tumores diagnosticados precocemente podem ser curados. Portanto, é possível curar o câncer de intestino. Por isso a prevenção e a colonoscopia são tão importantes para todos com mais de 45 anos, ou antes, em casos de histórico familiar ou sintomas”, afirma o oncologista clínico Rodrigo Nogueira Fogace, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.
Abaixo, ele responde as principais dúvidas em relação à doença.
1 – Posso chamar o câncer colorretal de câncer de intestino?
Sim, eles são praticamente sinônimos. É importante destacar que abrange tumores que se iniciam no intestino grosso (cólon) e na porção final do intestino (reto).
2 – Quais são os principais sintomas?
Os principais sinais são sangramento ao evacuar, dor abdominal, alteração do hábito intestinal (o intestino que fica naturalmente preso começa a ficar solto ou vice-versa), fezes mais finas que o normal. A anemia sem causa aparente também pode estar relacionada a tumores intestinais, achado muito comum na prática clínica.
3 – É verdade que ele não apresenta sintomas na fase inicial?
Assim como a maioria dos tumores, o câncer colorretal não costuma apresentar sintomas nas fases iniciais. Por isso, o rastreamento é muito importante, para que o diagnóstico seja feito o mais rápido possível.
4 – Qual a idade média das pessoas com a doença?
A maioria dos casos ocorre após a quinta década de vida, com maior frequência após os 60 anos. Porém, o número de casos entre jovens está chamando a atenção das entidades de saúde em todo o mundo. Portanto, é possível que ocorram mudanças nesta característica da faixa etária nas próximas décadas.
5 – É verdade que os negros correm mais riscos?
É muito difícil correlacionar a etnia com o risco de câncer no Brasil, pois nossa população é extremamente mista. No entanto, há fortes evidências de que as pessoas de ascendência africana têm maior probabilidade de desenvolver cancro colorrectal numa idade mais jovem. Estudos realizados nos Estados Unidos mostram que cerca de um em cada 23 homens ou mulheres afro-americanos desenvolverá cancro colorrectal em algum momento das suas vidas.
6 – Por que é importante observar o formato das fezes?
Por mais estranho que pareça, o aparecimento das fezes diz muito sobre a sua saúde como um todo. A forma, o odor e até a coloração podem ser utilizados na investigação de uma doença. Em relação ao câncer colorretal, como o intestino se assemelha a um “túnel”, se ele estiver semiobstruído por um tumor, por exemplo, o formato das fezes pode ficar mais fino. Esta é uma informação importante, que sinaliza que é necessário investigar mais a fundo a saúde intestinal do paciente.
7 – Qual o papel da dieta e do consumo de alimentos ultraprocessados no desenvolvimento desse câncer?
A alimentação está fortemente relacionada ao desenvolvimento do câncer colorretal, pois tudo o que é consumido passa pelo intestino, que pode inflamá-lo constantemente ou mantê-lo saudável. O consumo excessivo de produtos ultraprocessados pode aumentar em até 29% o risco de desenvolver neoplasias, o que é extremamente alto quando se fala em um câncer tão frequente e agressivo.
8 – Existe algum alimento que previne a doença?
Não existe alimento que previna o câncer, pois o desenvolvimento da doença depende de múltiplos fatores. Porém, existem alguns alimentos que ajudam a reduzir o risco: vegetais em geral, frutas e grãos ricos em fibras. É importante conscientizar a população de que quanto mais fibra ingerimos, menor o risco de desenvolver câncer colorretal, pois a fibra funciona como uma “escova” que reduz as impurezas no intestino e diminui o tempo que a mucosa intestinal fica exposta a agentes cancerígenos. fatores. alimentos.
9 – Quais são os fatores de risco para a doença? Além da obesidade, a prisão de ventre é uma delas, por exemplo?
A dieta desempenha um papel importante no desenvolvimento da doença, portanto, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, carnes vermelhas, fast food e álcool são importantes fatores de risco. Vale ressaltar também a questão familiar, pois os casos na família aumentam o risco de desenvolver a doença. Além disso, diabetes, idade acima de 50 anos, sedentarismo e doenças inflamatórias intestinais também estão relacionados a uma maior probabilidade. Em relação à constipação crônica, apesar de causar alguma preocupação, até o momento não foi comprovado que aumente o risco de desenvolver câncer colorretal.
10 – Como o sedentarismo influencia no desenvolvimento deste câncer?
Quando falamos em fatores de risco relacionados aos hábitos de vida, é muito difícil afirmar o real impacto desse fator. Porém, sabemos que o sedentarismo altera o metabolismo do organismo e, muitas vezes, as pessoas sedentárias apresentam outros fatores de risco pouco saudáveis, como excesso de peso, obesidade, consumo de álcool, entre outros. A soma desses fatores traz um quadro “pró-inflamatório” ao organismo, o que aumenta o risco de desenvolver diversas doenças, inclusive o câncer colorretal.
11 – A colonoscopia é a única forma de diagnosticar a doença?
A colonoscopia é a principal forma de diagnosticar a doença, pois é por meio dela que é retirada uma amostra da mucosa intestinal, que será enviada para biópsia. Existem outras formas de diagnóstico, como a cirurgia de limpeza intestinal. Porém, isso ocorre em estágios mais avançados da doença.
12 – A colonoscopia deve ser feita por todos? A partir de que idade e com que frequência?
A Sociedade Brasileira de Coloproctologia indica que o rastreamento do câncer colorretal, na população em geral, deve começar aos 45 anos para todos. Nos casos em que há antecedentes familiares, recomenda-se a realização do rastreio 10 anos antes da idade do familiar no momento do diagnóstico.
13 – É verdade que tomar EAA diariamente ajuda a prevenir a doença?
Estudos recentes demonstram redução do risco de câncer colorretal com o uso de ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina), principalmente em pacientes mais jovens. Houve redução aproximada de 33% no aparecimento de adenomas agressivos com o uso de EAA.
Porém, são necessários mais estudos para comprovar esse achado, pois quando falamos em quimioprevenção (uso de medicamentos para reduzir o risco de uma doença), é preciso ter certeza de que o medicamento não trará outros riscos ainda piores que o próprio câncer. Ainda precisamos de dados robustos que indiquem se esta redução se traduz realmente numa redução das mortes por cancro do intestino.
14 – A presença de pólipos no intestino indica câncer colorretal?
Não. Os pólipos são pequenas elevações da mucosa intestinal e são extremamente comuns na população. No entanto, alguns desses pólipos podem conter células que tendem a gerar um tumor no futuro. Portanto, os pólipos devem ser sempre removidos durante a colonoscopia, evitando assim que alguns deles levem ao câncer colorretal.
15 – Lesões ou úlceras no intestino significam que a pessoa tem câncer?
Não. Úlceras no intestino podem indicar um processo inflamatório intestinal, assim como as aftas ocorrem na mucosa da boca. Mas todas as lesões ulceradas, especialmente aquelas com bordas elevadas, devem ser biopsiadas durante uma colonoscopia.
16 – Como é realizado o tratamento?
O tratamento depende do estágio da doença. Nas fases iniciais (estágios 1 e 2), a doença é tratada, na maioria dos casos, exclusivamente com cirurgia. Nos casos mais avançados, que afetam os gânglios linfáticos (núcleos de defesa intestinais), o tratamento também inclui quimioterapia preventiva após a cirurgia.
A doença que apresenta metástase (com outros órgãos afetados, estágio 4) geralmente é tratada com quimioterapia. Atualmente, existem medicamentos biológicos que impedem a proliferação de vasos sanguíneos, ou que impedem a formação de células através da inibição de proteínas tumorais específicas. Dependendo das características individuais dos tumores, pode ser indicada a imunoterapia, um tratamento moderno e eficaz, mas que não funciona em todos os casos.
17 – Todas as pessoas com câncer colorretal terão que usar bolsa de colostomia?
Não. Geralmente, a colostomia é necessária quando o paciente necessita de cirurgia de emergência, como em caso de obstrução intestinal aguda ou mesmo perfuração intestinal. Outras indicações são quando o tumor ocorre na parte inferior do reto, que é a última porção do intestino e o paciente perde o controle das funções esfincterianas.
Vale ressaltar que a colostomia é necessária para a minoria dos pacientes com câncer colorretal, e a realização de uma colonoscopia preventiva reduz muito o risco de desenvolver um tumor avançado que exija colostomia no futuro.
18 – A doença tem cura?
Sim. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores serão as chances de cura. Existem alguns casos em que é possível curar pacientes com metástases hepáticas e pulmonares, mas as chances são reduzidas quanto mais avançada a doença estiver.
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