Dentre tantos esportes, o tênis de praia é um dos que tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil. E nem é preciso morar na praia para praticá-lo, pois o número de quadras de areia que oferecem o esporte tem aumentado em diversas cidades.
Porém, na hora de decidir praticar exercícios é preciso ter cuidado: quase metade (48,8%) dos que praticam o esporte já sofreu alguma lesão ortopédica. A constatação é de um estudo realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e publicado em julho no Revista Brasileira de Ortopedia.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores aplicaram um questionário a 160 praticantes regulares de beach tênis, com idade média de 40 anos, em duas cidades paulistas: São Paulo e São Caetano do Sul. Inicialmente serão coletados dados como idade, sexo e altura, peso, Índice de Massa Corporal (IMC) e lado dominante do atleta.
Na segunda etapa, os pesquisadores investigaram o tempo de prática (em meses, dias e horas por semana), participação em competições, categoria, experiência com outros esportes e uso do backhand com as duas mãos (nesse movimento, a pessoa acerta o bola enquanto segura a raquete com as costas da mão dominante voltada para a rede).
Por fim, coletaram informações relacionadas à presença de lesões e em qual segmento elas ocorreram: coluna, membros superiores ou inferiores. Os resultados apontam que 30% das lesões ocorreram nos membros inferiores (pés, joelhos e pernas), 11,3% na coluna e 25% nos membros superiores. A incidência foi maior entre os idosos.
O estudo constatou ainda que a maioria dos praticantes (44,4%) eram iniciantes e menos de 10% estavam classificados na categoria profissional. Além disso, 46,3% praticavam a modalidade há cerca de um ano e quase um terço treinava de duas a quatro horas por semana. Muitos (56,9%) já praticavam esportes com raquete anteriormente e 52,5% não praticavam outras atividades concomitantes.
O tênis de praia é uma mistura de tênis tradicional, vôlei de praia e badminton. A Confederação Brasileira de Beach Tennis estima que existam cerca de 300 mil praticantes no país – com grande crescimento após a pandemia de Covid-19, quando o esporte se popularizou, já que era recomendado a prática de atividades físicas ao ar livre.
“O tênis de praia é um esporte que vem crescendo muito no país e vemos cada vez mais pacientes no consultório com dores relacionadas à prática”, relata o cirurgião Antônio Carlos da Costa, professor da Santa Casa de São Paulo e autor principal do estudo, além de tenista de praia.
Segundo ele, ainda existem poucos estudos sobre a modalidade na literatura científica. “Utilizamos conceitos muito estudados do tênis, do squash e de outros esportes de raquete, mas sabemos que há muita diferença entre eles, principalmente porque os esportes de quadra e de areia diferem na superfície. Por isso decidimos fazer esse estudo brasileiro”, diz.
Areia é um problema
O elevado número de lesões, principalmente em membros inferiores (joelhos e tornozelos), se deve ao fato do tênis de praia ser um esporte dinâmico. O atleta precisa se movimentar rapidamente na areia fofa, exigindo muito esforço.
“Essas lesões são mais comuns nos esportes de areia justamente pela instabilidade do terreno. A areia é muito instável, afunda, e como o atleta joga descalço, sem nenhum equipamento de proteção nos pés, os membros inferiores ficam mais vulneráveis a entorses e sobrecarga no quadril”, alerta o ortopedista e cirurgião de mão Henrique Bufáiçal, da Saúde Serviço. Ortopedia do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia. No tênis de quadra, ao contrário, o atleta usa calçado adequado e joga em uma superfície lisa e plana, o que permite outro tipo de aderência e desempenho.
Segundo Costa, as lesões ocorrem em todas as modalidades esportivas. “Atividade física é saúde, esporte é lesão”, afirma o médico. Para ele, mesmo que o tênis de praia não seja um dos esportes mais perigosos, é cada vez mais comum ver pessoas que nunca praticaram esportes com raquete jogando muitas horas por dia, às vezes sete dias por semana – o que aumenta o risco de lesões e causa defeitos de execução difíceis de corrigir.
“Todo esporte tem uma técnica adequada e, praticando de acordo com a técnica, certamente o atleta terá menos lesões. Se a pessoa brinca sozinha ou aprende de forma errada, principalmente depois de certa idade, fica muito mais difícil corrigir os vícios adquiridos”, avalia o cirurgião e professor da Santa Casa.
Quantas horas é aconselhável jogar?
Não há um número máximo de horas recomendado para a prática de tênis de praia. Segundo Costa, a sugestão é não ultrapassar duas horas diárias e descansar pelo menos dois dias por semana. Se não houver lesão, esse tempo pode ser aumentado aos poucos; Na presença de alguma lesão, o ideal é reduzir as horas de prática. “Recomendamos também alternar o tênis de praia com outras atividades, como musculação, corrida, entre outras”, orienta a pesquisadora.
Para quem vai começar a se aventurar na prática, a sugestão é adquirir uma boa raquete, adequada à estrutura física da pessoa, e procurar um professor qualificado que ensine a técnica sem defeitos. Também é importante respeitar os limites do seu corpo. “Ao primeiro sinal de que algo está errado procure um médico especialista”, alerta Costa.
Para Bufáiçal, os resultados deste trabalho mostram de forma pioneira descobertas que poderão ajudar a orientar o tratamento e talvez até futuros preparativos de protocolos de treinamento de atletas, para que evitem esse número de lesões. “O tênis de praia é um esporte que atrai crianças e idosos. Temos uma população crescente de amadores, o que torna as lesões mais comuns. Por isso é tão importante ter dados nacionais”, afirma.
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