Um dos problemas do Brasil é uma carga tributária altíssima, 33% do PIB, e ainda assim tem um buraco fiscal, com o governo federal encerrando o ano passado com um déficit de R$ 240 bilhões, disse nesta quinta-feira (23) o ex-secretário de Estado o Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, ao participar do encerramento do AgroForum Cuiabá, evento promovido pelo banco na capital mato-grossense.
A boa notícia, segundo ele, é que foi aprovado um plano fiscal que tenta frear despesas. “O problema é que 90% dos gastos do governo são considerados obrigatórios. E mais da metade desses 90% têm regras automáticas de crescimento, como benefícios previdenciários e assistenciais, por exemplo, que estão vinculados ao salário mínimo”, afirmou.
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Segundo ele, atualmente, 70% dos benefícios previdenciários estão vinculados ao salário mínimo. Então, quando o salário mínimo sobe, leva consigo as despesas da Previdência Social.
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Outro problema citado pelo economista é o fato de os gastos com Saúde e Educação estarem atrelados à receita. Isto porque, quando o governo fizer um esforço para aumentar a arrecadação, proporcionando regimes fiscais especiais, necessariamente terá que gastar mais em Saúde e Educação.
“Isso cria um enorme problema para o governo. Portanto, estas regras automáticas de crescimento da despesa obrigatória tornam o ajustamento fiscal muito mais difícil, e é disso que os analistas económicos têm algum receio. Se o governo tiver que gastar mais com imprevistos, como é o caso do Rio Grande do Sul, sinceramente, isso não é problema porque esse gasto não é recorrente”, observou.
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Governo terá que alterar gastos
Segundo Mansueto, para passar de um déficit primário de R$ 240 bilhões no ano passado para um déficit zero neste ano e no próximo, o governo terá que controlar o crescimento das despesas, e não apenas tomar medidas para aumentar as receitas, como já fez. tenho feito.
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“Por isso é tão importante o debate para desvincular o crescimento automático das despesas, seja em relação à receita, seja em relação ao salário mínimo. Se o governo dissociar as despesas de Saúde e Educação das receitas, isso significa que as despesas serão congeladas? Não, mas não terão a obrigação de crescer na mesma velocidade do crescimento das receitas”, explicou.
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Segundo ele, nenhuma agência de classificação de risco e nenhum analista econômico espera que o ajuste fiscal num país com 90% de despesas obrigatórias seja feito em um ou dois anos. Mas, segundo ele, o importante é garantir que, olhando para frente, seja possível perceber que a partir de um determinado ano a dívida do Brasil vai parar de crescer e entrar em trajetória descendente.
“Possivelmente, este será o momento em que discutiremos a recuperação do grau de investimento. Mas, para que isso aconteça, o governo terá que mudar essas regras que levam a um crescimento quase automático dos gastos públicos obrigatórios todos os anos”, afirmou.
Segundo o economista, se o Brasil sinalizar queda nas despesas, a taxa de juros cairá imediatamente. “Lembremos que mais de 90% da nossa dívida é financiada em moeda local e isso é uma enorme vantagem”, disse, acrescentando que, se a mensagem correta for dada, e o governo trabalhar com o Congresso para desvincular certas despesas das receitas, o custo de financiamento do governo cairá imediatamente.