Há pelo menos uma semana, Fred Luz participa de reuniões com dirigentes do Corinthians. O clube fez uma proposta ao empresário para que ele assumisse a função de CEO (Chief Executive Officer). A contratação de um profissional para essa função foi sugerida pela Ernest & Young, que presta consultoria de gestão ao Corinthians.
Nos bastidores, o presidente do Corinthians, Augusto Melo, disse que Fred Luz “já está trabalhando”. Porém, o clube ainda não conseguiu oficializar a contratação.
A Gazeta Esportiva apurou que a negociação ficou paralisada a partir do momento em que Fred apresentou ao clube o vínculo que tem com a Alvarez & Marsal, multinacional do setor de consultoria de gestão, que chega a concorrer no mercado com a E&Y.
Num plano inicial, Fred Luz não pretende romper contrato com Alvarez & Marsal e gostaria até de utilizar pessoas da empresa em seu time no Corinthians. Dessa forma, ele seria um CEO “as a service”, termo em inglês que significa “como serviço”. Na prática, isso é adotado no mercado corporativo como uma modalidade de serviço contratado por tempo limitado e de acordo com cada necessidade, como um serviço de assinatura.
Fred Luz também não abre mão de ter total autonomia sobre todos os departamentos do clube – neste caso, reportaria apenas ao presidente – e de poder definir metas e prazos internos.
Estas condições iniciais esfriaram a possibilidade de um golpe rápido. A diretoria do Timão entende que precisa de um CEO totalmente focado em trabalhar no clube e, por isso, negociou a saída de Fred do Alvarez & Marsal.
O Corinthians também vem sofrendo pressão da Ernest & Young nesse sentido. A empresa contratada pelo clube no início do ano não pretende compartilhar planos e metodologias de gestão com pessoa vinculada a empresa concorrente. Este inconveniente já foi levado ao presidente Augusto Melo, que pediu paciência à E&Y para encontrar uma solução.
Dentro deste contexto, caso Fred Luz seja contratado como “particular”, tudo continuará normalmente. Caso o Corinthians aceite o empresário sem sua demissão da Alvarez & Marsal, a tendência será que a Ernest & Young avalie uma saída.
Todas essas incertezas abrem a possibilidade de o Corinthians começar a avaliar um novo nome para o cargo, e essa agenda já foi discutida internamente. A contratação de Fred Luz não está descartada, é a prioridade do clube, mas necessita de um alinhamento de intenções, o que não existe neste momento.
A Gazeta Esportiva perguntou ao Corinthians por que Fred Luz ainda não foi anunciado. Em comunicado, o clube admitiu que se deveu a “cláusulas contratuais”, mas manifestou otimismo ao dizer que “será assinado em breve, sem problemas”.
A intenção de Augusto Melo é conseguir concluir as negociações na próxima segunda-feira.
RISCO DE SAÍDA DA E&Y
O CEO é apenas uma peça dentro da estrutura profissional que Ernest & Young desenhou para que o Corinthians colocasse em prática um novo modelo de gestão, como apurou o Gazeta Esportiva. Para a empresa, contratar um CEO por si só não resolverá os problemas de governança, principalmente se houver resistência dos aliados políticos do presidente.
A intenção da consultoria é que o clube tenha executivos mercadológicos e remunerados em todos os departamentos estratégicos (futebol profissional, futebol de base, jurídico, marketing, financeiro e administrativo). Desta forma, a figura do diretor estatutário ficaria em segundo plano, mais ligada à política do clube, estando acima dele os respetivos executivos. Há também orientação para que o estatuto social do clube seja atualizado e inclua punições severas para diretores que cometem ações imprudentes e tenham suas contas reprovadas.
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O primeiro semestre termina neste domingo e a E&Y está atenta à forma como o clube tem recebido e caminhado em direção às metas elencadas e sugeridas. Há desconforto com a lentidão da diretoria corintiana na execução dos planos. A contratação de um CEO, por exemplo, deveria ter acontecido nos primeiros dias de gestão, segundo projeções iniciais.
A empresa não trabalha com “prazo” no momento e não há um prazo definido para o Corinthians colocar as sugestões em prática, mas há limites. A E&Y não pretende esperar até ao final de 2024, pois o plano traçado para os três anos do mandato de Augusto Melo ficaria totalmente comprometido. O Corinthians terá que acelerar ou corre o risco de perder a consultoria.
A E&Y, que trabalha e se preocupa com a credibilidade no mercado, também está ciente do envolvimento do Corinthians no noticiário policial, o que não agrada pela repercussão negativa e pela deterioração de sua imagem.
SEMANA DA TRANSPARÊNCIA
A chamada “semana da transparência”, prometida por Augusto Melo desde os primeiros dias do ano, só acontecerá quando o clube anunciar um novo diretor financeiro. Pedro Silveira é o nome do momento e está na função há duas semanas, mas ainda precisa tomar posse oficialmente.
A saída de Rozallah Santoro, até então responsável pela apresentação do relatório final da Ernest & Young sobre a situação financeira do clube, foi o principal motivo do adiamento das exibições.
A Gazeta Esportiva apurou que o relatório deve citar “má gestão” em algumas áreas, apontar decisões erradas que foram tomadas nos últimos anos e apresentar uma dívida bruta de R$ 2,1 bilhões até o final de 2023, acima do exposto no balanço financeiro do clube . Há também que reconhecer que este valor já aumentou nos primeiros meses de 2024.
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